segunda-feira, 14 de março de 2016

06 - Homem - esquecido




Homem-esquecido

Ideias absurdas
Palavras vãs, negras, inúteis
De bom grado as recebo
Chuva abençoada
Que depressa partiu
De silêncios me vestiu

Desapareci

Estou ausente, em parte incerta
Homem-efémero, camuflado
Atento ao passar dos séculos
À queda das areias do tempo
Ao nascimento das raízes

Naufraguei

Perto da ilha das árvores perdidas
Troncos imperiais, majestosos
Elevam-se para lá das nuvens
Para além de coisa nenhuma

Naveguei

Mares de ignorância e mesquinhez
Apinhados de marinheiros vulgares
Vingativos, ignaros
Esvaziados de poetas

Onde o meteorito desceu
O frio e a escuridão regressaram
A pedra devolveu, com violência
O silêncio ao meu veleiro
Numa melancólica tarde de fevereiro

Estremeci

A ilha inteira parou de dançar
Tamanha foi a dor do astro moribundo
Contrassenso absurdo
Sublime contrassenso absurdo
Depressa esquecido

Regressei

Passaram sessenta milhões de anos
Nesta ilha onde naufraguei
Tragédia assombrosa que tudo mudou
Se não conseguir escutar
Se não conseguir escutar, sentir, ver e amar
Depressa estarei perdido
Não-homem
Não-poeta
Contrassenso absurdo
Sublime contrassenso absurdo
Depressa partirei desta ilha onde, por engano
Naufraguei
Depressa voltarei a ser o que sempre fui
Homem-esquecido

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