Homem-esquecido
Ideias absurdas
Palavras vãs, negras,
inúteis
De bom grado as recebo
Chuva abençoada
Que depressa partiu
De silêncios me vestiu
Desapareci
Estou ausente, em parte
incerta
Homem-efémero,
camuflado
Atento ao passar dos
séculos
À queda das areias do
tempo
Ao nascimento das
raízes
Naufraguei
Perto da ilha das
árvores perdidas
Troncos imperiais,
majestosos
Elevam-se para lá das
nuvens
Para além de coisa
nenhuma
Naveguei
Mares de ignorância e
mesquinhez
Apinhados de
marinheiros vulgares
Vingativos, ignaros
Esvaziados de poetas
Onde o meteorito desceu
O frio e a escuridão
regressaram
A pedra devolveu, com
violência
O silêncio ao meu
veleiro
Numa melancólica tarde
de fevereiro
Estremeci
A ilha inteira parou de
dançar
Tamanha foi a dor do
astro moribundo
Contrassenso absurdo
Sublime contrassenso
absurdo
Depressa esquecido
Regressei
Passaram sessenta
milhões de anos
Nesta ilha onde
naufraguei
Tragédia assombrosa que
tudo mudou
Se não conseguir
escutar
Se não conseguir
escutar, sentir, ver e amar
Depressa estarei
perdido
Não-homem
Não-poeta
Contrassenso absurdo
Sublime contrassenso
absurdo
Depressa partirei desta
ilha onde, por engano
Naufraguei
Depressa voltarei a ser
o que sempre fui
Homem-esquecido
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