domingo, 17 de abril de 2016

19 - A morte de Abílio carpinteiro




A morte é o vazio
Difícil de explicar
Complicado de compreender
A morte e o vazio são construídos de coisa nenhuma
E como pesam
Incoerentes e insensatos

A morte chega com a naturalidade
Das coisas simples
E o peito palpita
E o coração sangra
Assustado
Mais uma viagem chegou ao fim
A alma do carpinteiro estava cansada quando se deitou

A morte aliviou-lhe a passagem
Pelos estreitos corredores
Projetou-a nas paredes forradas
Num papel antigo
Onde estranhas cornucópias douradas
Bailavam em palcos verdes e azuis

A morte chegou
Sem avisar
Atravessou as frinchas dos estores
Semiabertos
Atormentou o viajante
Que fixou os olhos no teto do quarto
Antes de partir

A morte, primeiro
O vazio, depois
A visão do mar imenso a surgir
Vertiginosamente

A morte chegou
O quarto ficou pequeno
As paredes moveram-se
Assim como a cama estreita
Onde repousava de olhos cerrados
Com a idade errada para falecer

A morte arrefeceu-lhe o corpo
A temperatura baixou
As angústias voaram
Desapareceram com as dores
O ar
A visão
Ficou somente a luz branca
E morna
Que o carpinteiro recordou

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