La
Strada
Eis, aqui, a estrada
Caminho empedrado,
gasto
Polido por viajantes
peregrinos
Homens e mulheres
Descalços
Penitentes
Que ainda se atrevem a
acreditar
Construção demoníaca do
Homem inventor
A estrada em que
acreditam não é esta que percorrem
Onde esfregam as dores,
Onde crescem calos e o
sangue pinta e mancha e pragueja
Homem, grita e brada
Homem, chora
Homem, estás derrotado
Homem, verte no
pavimento as lágrimas, as raivas
A doença, a fome, a
guerra
A miséria mais miserável
de todas as misérias
Homem, sente
Pisa com vigor todas as
lajes da grande estrada por onde caminhas
Até te sangrar a pele
Até os olhos se
cansarem
Até a alma quase se
apagar
Homem, velho
Olha para tudo o que construíste,
foi bem mais aquilo que destruíste
Homem, cansado
Eis, aqui, La strada
Caminho empedrado,
gasto
Caminho autêntico
Caminho fingidor
Poeta
Viajante peregrino
Pensas o que sentes?
Ilusória sensação
desconcertante
Eis aqui o teu amor
errante
Amor impossível
Amor ausente
O poeta é
verdadeiramente
um fingido(r)